O GRANDE ESPETÁCULO: A ATUAL POLÍTICA DE PÃO E CIRCO NO BRASIL

02/10/2011 00:14

 

O GRANDE ESPETÁCULO: A ATUAL POLÍTICA DE PÃO E CIRCO NO BRASIL[1]

Bárbara Bruna da Trindade Gomes[2]

Gelfa de Maria Costa Aguiar[3]

 

 

Em junho de 2003, a Confederação Sul-americana de Futebol (CONMEBOL) anunciou que Brasil, Argentina e Colômbia seriam os candidatos da América do Sul a sediarem a Copa de 2014, porém em 2006 de forma unânime a FIFA vota no Brasil como seu único candidato, mas foi apenas em 2007 que houve de fato a ratificação do mesmo como país sede do maior evento esportivo do mundo.

A verdade é que o Brasil venceu essa disputa por WO[4], já que os demais países sul-americanos não se mostraram interessados em sediar a Copa. Todavia, isso em nada diminuiu o regozijo de Ricardo Teixeira (Presidente da Confederação Brasileira de Futebol - CBF) e muito menos dos ministros, prefeitos e governadores, que usaram a cerimônia na sede da FIFA, localizada na Suíça, como uma forma de apregoar as maravilhas naturais e culturais da nação brasileira.

Passada a euforia após o anúncio de que a copa 2014 seria no Brasil, chega é hora de se pensar nos gastos que o evento irá demandar. Segundo a  CBF,  essa copa seria a “copa da iniciativa privada”, ou seja, os cofres públicos estariam isentos dos gastos com o evento, doce ilusão! Pois, quatro anos depois verifica-se que o orçamento para o mundial cresceu cerca de 130% e o que será pago pelas empresas é nada mais nada menos que 1% dessa conta.

 Nesse sentido, surge um forte questionamento: para quem ficará a responsabilidade de arcar com tais despesas? Para as administrações públicas envolvidas, claro!  Em outras palavras, para o contribuinte brasileiro, somos nós que pagamos a conta e nem nos damos conta disso.

Um pouquinho de reflexão e chegamos a mesma história, durante os jogos pan-americano (2007) . Nesse contexto, uma breve síntese daquele cenário serve para relembrarmos: governos municipais, estaduais e federal lutando por sua paternidade, em troca dos possíveis lucros diretos  e os indiretos proporcionados pela mídia, um projeto que também previa ampla participação do setor privado que, no fim das contas transferiu seu ônus para o setor público, com um orçamento multiplicado por aproximadamente 8, ao longo do percurso entre o planejamento e a execução das obras, o que custou aos governos estaduais aproximadamente 3,5 bilhões de reais.

De acordo com declaração de Ricardo Teixeira (2007) a copa deveria custar R$ 10 bilhões, já na  última lista divulgada em 2010, o evento custaria R$ 17,5 bilhões, ou seja, em menos de um ano, o aumento na previsão de gastos foi de 34%, chegando a atual estimativa de R$ 23,5 bilhões. A iniciativa privada não apresentou nenhum investimento direto e os clubes ligados a alguns estádios que serão sede do mundial devem investir cerca de R$ 330 milhões, o equivalente a 1,43% do total de investimentos.

Agora, imaginemos onde essa “dinheirama” toda poderia ser investida em prol da população e não do futebol: na expansão de saneamento básico fornecendo água tratada para os cidadãos, na construção de casas populares, na eletrificação rural; reduzindo os respectivos déficits nestes segmentos. Além disso, ainda daria para investir na educação, reduzindo a taxa de analfabetismo real ou funcional existente no país.

Investir em educação? mas pra que? É doloroso, porém muito fácil de compreender: maiores investimentos em educação podem significar ampliação do nível de conhecimento, o que pode resultar em uma população menos passível de se encantar com um circo tão caro como será a Copa do Mundo para o Brasil. Trocando em miúdos: pessoas com mais conhecimento, são pessoas mais críticas, hipoteticamente com maior nível de discernimento nas épocas eleitorais, que saberiam fazer melhores escolhas,  pessoas que  enxergariam nas entrelinhas o que os políticos tentam de forma imoral e ilegal esconder.  Daí percebe-se, dentro da lógica do Estado capitalista, porque os investimentos em educação, no Brasil não chegam nem a 4% do PIB.

Por conseguinte, resta ao povo brasileiro ser menos patriota, sem contudo deixar de acreditar que seremos hexa-campeões, mesmo que nossos melhores atletas estejam jogando fora do país, mesmo que nossos times precisem do auxílio do time-mania[5] para não decretar falência, mesmo que alguns poucos empresários de futebol estejam assustadora e estranhamente milionários, diante de toda pobreza do Brasil e, tomar uma atitude patriótica  olhando com outros olhos  para o fenômeno esportivo que é veiculado para nós como sendo um grande espetáculo.

Busquemos uma reflexão mais crítica e sensata, se isso não for exigir demais do povo brasileiro, a nação do futebol e das belas mulatas, então poderemos, sem medo nem culpa,  fazer alusão a Copa de 2014 como sendo o antigo circo, ao mesmo tempo tão recente, que se descola do pão numa proporção considerável, no país pós-Copa.

 



[1] Artigo elaborado no âmbito do GAACE em setembro de 2011.

[2] Autora: Bárbara Bruna (barbara-bruna1@hotmail.com). Discente do curso de bacharelado em  Ciências Econômicas (UFCG), bolsista do PET-ECONOMIA e integrante do GAACE.

[3] Revisora: gelfaguiar@gmail.com Docente da UAEcon; Tutora do PET-Economia e Integrante do GAACE.

[4] Referência de WO:  Quando um time ganha uma partida, sem que o outro entre em campo.

[5] Time Mania: Jogo de loteria organizado pelo governo federal, com o objetivo de ajudar os times de futebol  a pagarem as suas dívidas. 

 

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